<$BlogRSDUrl$>

17 de abril de 2006

Israel-Palestina - Não há paz unilateral 

por Ana Gomes (publicado no COURRIER INTERNACIONAL em 24 de Março)

No passado dia 13 de Janeiro, escrevi nesta mesma coluna que o " 'centrismo' pragmático [que domina de momento o eleitorado israelita] constitui um avanço, mas não chega". Desde então, a vitória do Hamas reforçou a inclinação israelita para um 'autismo' unilateralista que importa agora analisar mais de perto. Porque quer queiramos quer não, tudo indica que esta abordagem vai determinar a dinâmica do conflito israelo-palestiniano nos próximos anos.
A melhor pista para o que Ehud Olmert pensa fazer quando formar governo depois das eleições do próximo 28 está numa entrevista de 10 de Março dada pelo Primeiro Ministro em exercício ao diário israelita «Haaretz». O que mais impressiona é a tentativa de Olmert de corresponder à ânsia da população israelita por normalidade: idealiza um país que daqui a uns anos será "diferente", "com menos violência exterior e mais segurança pessoal; "um país onde será divertido [fun] viver." Para além disso, Olmert diz que o principal objectivo do seu governo será o de estabelecer fronteiras permanentes, assentes num sólido consenso interno e internacional: "acredito que daqui a quatro anos, Israel estará desligado da esmagadora maioria da população palestiniana." Reforçando esta mensagem, Olmert declarava há uma semana que o governo israelita ia pôr fim ao financiamento de infra-estruturas para além da Linha Verde de 1967.
Se a história acabasse aqui, poderia concluir-se que o 'unilateralismo' herdado de Sharon e aperfeiçoado por Olmert era uma alternativa aceitável a negociações com a Autoridade Palestiniana liderada por um Hamas que continua a não dar sinais de se estar a transformar num futuro parceiro para a paz.
O problema é o resto. Olmert declara abertamente que a área 'E-1', que liga Jerusalém a Ma'aleh Adumim e que põe em causa a contiguidade da Cisjordânia, é para preencher de colonatos; que o muro de separação se vai tornar a nova fronteira internacional (embora com possíveis alterações de trajecto); que os maiores colonatos serão "consolidados" (à custa de mais terra palestiniana?); mais grave, Olmert sublinha categoricamente que o vale do rio Jordão será a 'fronteira de segurança' de Israel, com forte presença militar e de colonatos. Finalmente, o «raid» sobre a prisão de Jericó foi levada a cabo como se não houvesse amanhã, como se não tivesse consequências infligir mais uma tremenda humilhação aos vizinhos ocupados, como se mais uma operação militar bem sucedida e mais uns inimigos capturados trouxessem verdadeira segurança a Israel.
O que Olmert esquece, na azáfama de ganhar as eleições, de fazer de durão à la Sharon, e de fazer promessas para agradar a gregos e a troianos, é que a comunidade internacional, e especialmente a Europa, não vão permitir que o unilateralismo israelita, nos termos em que está a ser apresentado, constitua o novo mapa final para a questão israelo-palestiniana. Todas as medidas provisórias e/ou unilaterais da parte de Israel que contribuírem para uma resolução definitiva do conflito de acordo com os parâmetros das últimas negociações apadrinhadas pela administração Clinton, serão bem acolhidas. Mas como outro diário israelita, o «Yediot Ahronot» explicava, Israel "não é um império vitorioso que possa traçar linhas nas areias do Médio Oriente como lhe convém. Nunca nos permitiram isto no passado e nunca nos permitirão isto no futuro." Com ou sem Hamas, uma solução permanente e duradoura, a normalização, a paz, só se instalarão naquela região quando palestinianos e israelitas se puserem de acordo. Não é uma questão de idealismo. É que nunca se fez a paz unilateralmente.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?