<$BlogRSDUrl$>

7 de julho de 2015

O NÃO grego é sim à Europa 

Começo por prestar tributo ao povo grego,  que apesar de empobrecido, sacrificado e endividado, não se deixou intimidar por uma campanha de chantagem despudrada e exprimiu anteontem nas urnas um vigoroso NÃO às políticas austeritárias falhadas que a  Troika lhe tem imposto. Uma troika que emana de uma Europa dominada pela direita neo-liberal sem escrúpulos e de uma parte da esquerda capturada por interesses.

Pode não se concordar com o Siryza e o recurso de Tsipras ao referendo, mas ninguém ousa contestar que este exprimiu o sentir do povo grego. E ontem todos os partidos gregos,  à excepção do PC, vieram reconhecer e declarar que o NÃO não significava não à Europa, não à Grécia permanecer na UE e no Euro, mas sim a recusa dos gregos de um programa de mais empobrecimento, mais injustiça  e mais endividamento. Todos esses partidos gregos vieram ontem pedir a urgente retomada das negociações com a UE para permitir à Grécia reformar-se, recuperar e até pagar as dívidas que puder pagar.

Foi também essa a mensagem que o Grupo dos Socialistas e Democratas no PE mandatou o seu Presidente, Gianni Pitella, para transmitir ao Presidente da CE, instando-o a assumir as suas responsabilidades e liderar o processo para manter a Grécia na zona Euro e voltar a negociar  com o Governo Tsipras. Um mandato confirmado numa discussão muito participada onde foram vivamente criticados sociais-democratas como o Presidente do PE, Martin Schulz, o Vice Chanceler alemão Sigmar Gabriel e o presidente do Eurogrupo, o holandês  Djisselbloem, pelas inacreditáveis declarações que proferiram nos ultimos dias sobre a Grécia. 

Declarações que não resultam de alinharem pelo perigoso diapasão do Ministro das Finanças alemão Schäuble, que há meses que orquestra a saída da Grécia do Euro: resulta do preconceito, que tantas vezes eu e outros socialistas portugueses e de outros países do sul percebemos que era por eles transmitido ao povo alemão e que não queriam ouvir-nos desmistificar: a primeira versão deste preconceito traduziu-se na tirada da Sra. Merkel a dizer que os portugueses trabalhavam menos dias e horas que os alemães... Lembram-se como se demonstrou que estava errada. E de como a direita portuguesa alimentava tal preconceito dizendo que vivíamos acima das nossas possibilidades e por isso era preciso empobrecermos! 

Ora, a última versão desta adulteração da realidade é a que Passos Coelho agora se empenha em propalar, quando apregoa o mantra de que "Portugal está no bom caminho": os cofres estarão cheios em bancos e grupos económicos favorecidos pelo Governo à conta dos portugueses  sobrecarregados de impostos e a quem cortaram salários e pensões, prestações sociais, na saúde e na educação, além dos 20% de portugueses a viver na pobreza, os 30 por cento de crianças a viver abaixo da linha de pobreza, os mais de 500 mil portugueses desempregados, além dos 485.000 forçados a emigrar.

Para estes portugueses importa que o não dos gregos force a Europa a finalmente reconhecer que a austeridade falhou e agravou os problemas da pobreza, do desemprego, da injustiça social, das desigualdades, dos graves riscos que ameaçam a democracia na Europa não à conta do Siriza, mas dos extremismos e nationalismos xenófobos da extrema direita que a austeridade faz crescer, em França, na Dinamarca, na Hungria e não só.

Importa que as negociações com Tsipras retomem rápidamente, para que a especulação contra o euro não se desencadeie e venha de novo pôr o nosso país na linha da frente, como elo mais fraco a seguir a Grécia - porque ao contrário do que diz o PM Passos Coelho,  a zona euro está mesmo em risco. 

Importa que Tsipras, além de se comprometer com reformas de fundo no Estado grego, consiga mesmo forçar a mudança da politica austeritária e fazer a Europa encarar  os defeitos e insuficiências do euro que exigem um salto em frente na governação econômica e financeira da zona euro. Obviamente exigindo também mais controlo  democrático - o controlo que o Eurogrupo agora não tem. 

Importa que Tsipras consiga realmente levar a Europa a encarar o problema das dívidas públicas impagáveis que asfixiam os países e os impedem de crescer - e encarar de frente implica encontrar um mecanismo para gerir de forma mutualizada todas as dívidas europeias, as da Alemanha e da Holanda também, países que  também não cumprem ao as regras do PEC - apesar de passarem o tempo a dar lições de moral a outros de que é preciso cumprir as regras... 


Mas o retomar da negociação política com Grécia ainda não está garantido, apesar do Presidente Hollande - na ultima oportunidade  de que lhe resta para demonstrar que serve para alguma coisa e que a França existe na Europa - se estar a empenhar a convencer a Sra Merkel a não ir atrás da estratégia suicida para o euro e a Europa do seu Ministro das Finanças

Não tenhamos ilusões: a direita alemã não quer só expulsar a Grécia do euro: interfere  e procura infligir mais provações e humilhações aos gregos para garantir que a Grécia se torna vacina para outros povos com veleidades de se livrarem de forças austeritarias de direita no governo. Portugal e Espanha seguem-se...


(Notas em que me baseei para a crónica de 7.7.15 no Conselho Superior, ANTENA 1)



This page is powered by Blogger. Isn't yours?